Por que a proteção de dados é prioridade nas empresas
Em 28 de setembro, o mundo celebra o Dia Internacional do Acesso Universal à Informação, criado pela UNESCO em 2015 para reforçar o direito das pessoas de terem acesso a informações de forma ampla, transparente e segura.
No Brasil, esse tema ganha cada vez mais relevância. O volume de dados coletados cresce em ritmo acelerado, enquanto os incidentes de segurança se multiplicam. Só no terceiro trimestre de 2024, o país registrou um salto de 340% em vazamentos de dados, com 5,1 milhões de contas online expostas. De janeiro a setembro, o número já chegava a 13,7 milhões. O levantamento da Surfshark ainda coloca o Brasil como o 8º país com mais contas comprometidas no período.
Esse cenário justifica a preocupação dos consumidores: 90% dos brasileiros afirmam que a proteção de dados é decisiva para confiar em uma empresa, de acordo com estudo da PwC.
Por que proteger dados é tão importante?
As informações pessoais — desde um CPF até dados de saúde ou hábitos de consumo — são insumos valiosos para empresas que buscam conhecer melhor seus clientes, criar programas de fidelidade e oferecer experiências digitais personalizadas. Mas também representam riscos enormes quando não recebem a devida proteção.
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em vigor desde 2020, estabeleceu regras rígidas para a coleta, o armazenamento e o uso dessas informações, obrigando empresas a se apoiarem em bases legais claras para qualquer tratamento de dados.
Como destaca Lucas Monteiro, especialista em tecnologia e martech leader da Keyrus, vivemos uma realidade em que a privacidade não é apenas um direito garantido em lei, mas uma expectativa dos consumidores. Empresas que assumem uma postura proativa de proteção passam a ter vantagem competitiva.
Desafios das empresas brasileiras
Mesmo após cinco anos da LGPD, muitas organizações ainda estão longe da conformidade: 8 em cada 10 empresas não cumprem integralmente a lei, segundo pesquisa do Grupo Daryus.
Do outro lado, os consumidores também estão mais conscientes: 44% dizem conhecer a LGPD, e um terço já sofreu perda ou roubo de dados. Isso evidencia o dilema central: como equilibrar o uso estratégico de dados para inovação e personalização sem abrir mão da privacidade?
LGPD e GDPR: lições globais
O Brasil, com a LGPD, segue a mesma direção da União Europeia, que desde 2018 adota o GDPR. Mas o caminho ainda exige ajustes, principalmente pela falta de padronização internacional e pela resistência de alguns setores em mudar práticas antigas.
Segundo Lucas Monteiro, transparência vai além de obrigação legal: quando o consumidor entende claramente como seus dados são usados, a relação com a marca se fortalece e passa a ser de confiança e lealdade de longo prazo.
7 medidas para equilibrar privacidade e uso de dados
Definir bases legais corretas – Toda coleta de informação deve estar justificada por uma hipótese legal clara.
Comunicação transparente – Linguagem acessível e objetiva sobre o que é coletado, como será usado e por quanto tempo.
Anonimização e minimização – Coletar apenas o essencial e usar dados agregados sempre que possível.
Treinamento contínuo – Equipes capacitadas reduzem riscos e evitam falhas humanas.
Investimento em tecnologia – Criptografia, autenticação multifator e inteligência artificial são aliados contra fraudes.
Governança estruturada – DPO ativo, políticas internas claras e processos bem definidos.
Plano de resposta a incidentes – Protocolos ágeis para notificar autoridades e consumidores em caso de vazamento.
Privacidade como diferencial competitivo
Mais do que cumprir a legislação, colocar a proteção de dados no centro da estratégia é o que garante confiança — e esse é hoje o ativo mais valioso para qualquer marca.
Como resume Monteiro: “Não é apenas sobre evitar multas. O diferencial está em mostrar respeito ao consumidor. Confiança é construída quando a privacidade é tratada como prioridade estratégica”.